segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Angélica?! Era uma coitada, uma romântica, uma boba. Acreditava no amor quando o amor morreu. Tinha dezoito anos, e se fizera mulher numa noite aziaga, de tempestade. Ela se lembrava do susto pudico que tivera, pela manhã, ao erguer-se do leito. O lençol e suas calças de seda tinha pétalas de sangue. A rosa da sua puberdade se desfolhara na sua carne pálida, nessa noite comunista, nessa noite cheia de murros...

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Chapeuzinho Verde


- Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Verde...
- Não! Chapeuzinho Vermelho!
- Ah, sim, é claro, Chapeuzinho Vermelho. Bem, um dia sua mãe a chamou e disse: Chapeuzinho Veerde!
- Vermelho!
- Desculpe! Vermelho. 'Filhinha, leve estas batatas para tia Maria...
- Não! Não é assim! 'Leve estes doces a casa da vovó. da vovó!
- Tem razão. A menina saiu e no bosque encontrou uma girafa e...
- Que trabalhada você está fazendo! Era um lobo!
- E o lobo disse: Seis vezes oito quanto é?
- Não! Não! O lobo lhe perguntou para onde ia.
- Sim para onde ia. E a Chapeuzinho Preto respondeu...
- Vermelho! Vermelho!! Vermelho!!!
- Ela respondeu: 'Vou à feira comprar tomates.'
- Não, não foi assim. Ela disse: 'Vou a casa de minha avó, que está doente, mas me perdi no caminho.'
- Claro! E o cavalo disse...
- Que cavalo? Era um lobo vovô.
- Pois era. E foi isso que ele disse: 'Pegue o ônibus 75, desça na primeira praça, vire a direita e diante do portão da primeira casa encontrara três degraus. Deixe os degraus onde estão, mas apanhe as moedinhas que estão em cima deles e compre uma caixinha de chiclete.'
- Vovô você é um desastre quando conta estórias. Mistura tudo. Mas, de qualquer maneira, uma caixinha de chiclete viria a calhar.
- Bem, tome o dinheiro.

E vovô continuou lendo o jornal...

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Rotina... acordar cedo toda manhã! Dia claro, e após alguns "longos" meses eu ainda estava me readaptando a acordar com disposição. Bem... até então aquela era apenas mais uma sexta-feira qualquer, de um mês qualquer, de um ano que insistia em correr. Porém, alguns fatos fizeram com que esse dia deixasse de ser meramente mais um. Te conheci e foi estranho. Estranho de minha parte como sempre! Eu, pra variar, com minha timidez... calado! nervoso talvez... e você ali ao meu lado, com seu sorriso. Primeira vez, mas era como se já te conhecesse há tempos e hoje passado algum tempo ainda guardo com nitidez os fatos. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Estou me sentindo como no filme "gigante"...

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Crônica

Já não passa nenhum carro por aqui
já não passa nenhum filme na tv
você enrola outro cigarro por aí
e não dá bola pro que vai acontecer
mais um pouco e mais um século termina
mais um louco pede troco na esquina
tudo isso já faz parte da rotina
e a rotina já faz parte de você
você que tem idéias tão modernas
é o mesmo homem que vivia nas cavernas
todo mundo já tomou a coca-cola
a coca-cola já tomou conta da china
todo cara luta por uma menina
e a palestina luta pra sobreviver
a cidade, cada vez mais violenta
(tipo chicago nos anos quarenta)
e você, cada vez mais violento
no seu apartamento ninguém fala com você
você que tem idéias tão modernas
é o mesmo homem que vivia nas cavernas

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Who really fucking cares?



Sempre. Eu sempre soube que não seria fácil, muito pelo contrário, Nada é fácil, tudo tem que ser conquistado. E dessa vez não foi diferente. Tentar superar essa dor não foi diferente. E mais uma vez, tudo ao contrário. Cada dia, a cada dia que passa essa dor só aumenta. Partindo meu coração em pequenos pedacinhos. Sinto aquela angústia, aquele bolo na garganta de tanta vontade de chorar. Mas tento ser forte. Tento superar... nem sempre é possível!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Já dizia o poeta...

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

(Álvares de Azevedo)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

há dias que simplesmente você se olha no espelho e não se reconhece!

Começo a achar que hoje é mais um desses dias... :(

domingo, 26 de maio de 2013

Robert Allen Zimmerman

Sexta feira passada - 24/05 foi aniversário do Sr. Dylan... Aqui aproveito para postar alguns vídeos do cara e de outros artistas tocando "O"  cara...

1 - Hurricane: Uma das minhas favoritas! está presente no disco desire de 1971, e narra a história verídica do boxeador Rubin "Hurricane" Carter.


2 - All I really want to do: Essa versão dos Byrds é muito boa, até mais do que a do Próprio Dylan.


3 - Mr tambourine man: Um clássico interpretado por Melanie Safka.


4 - Just like woman: The hollies plays Dylan


5 - Don't think twice, it's all right: Versão presente nas gravações do Nick Drake antes do lançamento do seu primeiro disco.


6 - Romance no deserto: Não poderia faltar uma versão brasileira... Romance in Durango presente no álbum Desire.


7 - Like a rolling stone: Afinal a maior banda de todos os tempos não poderia ficar de fora...


8 - Walking down the line: Bob Dylan não tocou em Woodstock, mas sua música esteve presente!!


9 - Blowing the wind: Clássico... "the answer my friend is blowing in the wind..."


10 - Chimes of freedom: O cantor do proletariado americano também entrou na lista

sábado, 11 de maio de 2013

O playboy que sonhava em ser rock star...


A história de Philippe Debarge e The Pretty Things, embora não seja amplamente conhecida, é uma das lendas mais interessantes nos anais do rock and roll. Philippe Debarge era um rico e excêntrico playboy francês que tinha dinheiro para comprar tudo, mas acima de tudo, ansiava em se tornar uma estrela do rock. Ele morava em um grande castelo em Saint-Tropez, França, com vista para o mar Mediterrâneo com a sua família que fez fortuna na indústria farmacêutica. A época é o início de 1969 e Philippe era um grande fã do The Pretty Things, que tinha acabado de lançar o LP SF ' Sorrow ", que é agora é considerado por muitos como um dos melhores álbuns da psicodelia sessentista do Reino Unido, mas na época, infelizmente, foi uma bomba comercial.

Debarge começou a buscar ativamente o Pretty Things na esperança de se associar com eles em um álbum de sua autoria onde ele iria cantar e levar adiante sua divulgação. Devido ao fracasso comercial de "S.F. Sorrow ", o Pretty Things precisava de dinheiro e com isso aceitou a proposta de Debarge. Não sabendo o que esperar desse projeto, mas em uma crise financeira, os dois principais membros da banda, Phil May e Wally Waller, viajaram para o Sul da França para se reunir com Debarge e ver de perto essa proposta incomum mas tentadora. Lá eles encontraram um Debarge inexperiente musicalmente, mas fervoroso e autêntico companheiro, superfã da banda e determinado a fazer da sua fantasia uma realidade. E o melhor de tudo. Ele tinha os recursos financeiros necessários para que isso realmente acontecesse. May e Waller ficaram com Debarge por cerca de 5 a 6 dias e o tempo necessário e único em suas vidas para comer alimentos exóticos, beber requintados vinhos franceses e dirigindo vários automóveis de luxo raros, incluindo um Rolls Royce 1908. Waller recorda que "a decisão mais difícil que eu tive que fazer enquanto eu estava lá era saber se utilizaria a piscina de água salgada ou a piscina de água doce."

A viagem a Saint-Tropez acabou cimentando uma amizade muito forte entre os Debarge e os dois membros do Pretty Things. Muitos planos foram feitos levar Debarge de volta a Londres, onde iria gravar seu primeiro álbum. A única condição importante para o acordo era que eles só trabalhassem com canções originais escritas pela própria banda. Os estúdios Nova foi escolhido, que, na época, foi um dos primeiros estúdios em Londres que tinha equipamento de gravação completa. Era o mais completo e bem equipado de todos. Debarge cuidava de tudo e não poupou gastos para equipar o projeto, para um tempo de estúdio longo e com o aluguel de instrumentos adicionais além dos da propriedade da banda...

Para um francês, Debarge falava Inglês excelente e, embora ele não tinha experiência prévia como vocalista, ele tinha um talento natural para cantar. A formação do Pretty Things que gravou o álbum era Phil May (vocal), Wally Waller (baixo, guitarra, teclados, percussão, backing vocals), Jon Povey (teclados, bateria, percussão, backing vocals), Victor Unit (guitarra e backing vocals) e Twink (bateria). O disco ficou excelente e inclui musicas em sua maioria nunca antes lançadas, mas com algumas interpretações originais de algumas músicas ( "Alexandre", "Eagle's Son" e "It'll Never Be Me") que também foram incluídas no disco Electric Banana.

O LP foi gravado em acetato, mas infelizmente nunca lançado oficialmente até 2009 quando então May e Waller se reuniram com a UT Records / Ugly Things e remasterizaram as gravações e, finalmente, editaram as faixas do CD como foi originalmente concebido para ser ouvido. Antes desta versão, tudo o que estava disponível dessas canções foi uma gravação de acetato muito pobre que pouco fazia justiça a esse grande trabalho.

quarta-feira, 8 de maio de 2013


Eu sou um homem só
Penando em solidão
Eu vivo e sofro só
E o resto é solidão
E do meu lado
Vão aqueles que sofrem também
Porque acreditam em mim
E do meu lado
Vão aqueles que me querem bem
Mas que já não acreditam mais... não mais.


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Folha em branco

Trancado no quarto tentando escrever algo! muita coisa na cabeça, porém, nada no papel... a folha continua em branco! Compondo a trilha sonora os Smiths com Morrissey destilando canções e poesias de forma extraordinária!

Sentado na cama, janela aberta, céu limpo... Solidão?! não. A verdade é que você sumiu... 


"...Hand in glove. We can go wherever we please, and everything depends upon how near you stand to me..."

sexta-feira, 19 de abril de 2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

"livros no tempo do sofá"

Memórias de um Rato de Hotel, o presente que me dei no Natal. (Foto: Dez/2005)
Memórias de um rato de hotel - vida do Dr. Antônio narrada por elle mesmo. "Descobri" esse livro por indicação do Rodrigo Sputter (Vocalista dos Honkers (BA), e a primeira coisa que me chamou a atenção foi o título curioso, não captava o que viria a ser um "rato de hotel". Romance policial muito interessante onde nas 2 vezes que eu li fiquei totalmente entretido no texto. Creio que foi o primeiro livro que "devorei"... lembro de ter lido em poucos dias (normalmente sou vagaroso nas leituras).

Dr. Antonio foi um célebre ladrão da Belle Époque que ficou famoso por seus roubos inteligentes em diversos hotéis, onde se hospedava com identidades diferentes. O seu verdadeiro nome era Arthur Antunes Maciel, gaúcho de família respeitável levado ao crime por um destino atroz: não resistir à vida fácil e ao amor das mulheres. Suas histórias são picarescas e dotadas de muita esperteza. É um relato de extrema sinceridade, narrado por ele mesmo, quando estava preso na Casa de Correção, um ano antes de sua morte, aos 43 anos.

O Dr. Antonio professava a filosofia de que a mentira está na base de todas as instituições humanas – inclusive a Justiça. Assim, se o engano é universal, não haveria mal em furtar...

O livro é o nº 6 da Coleção Babel da editora Dantes (RJ).

terça-feira, 16 de abril de 2013

and this will be our year...

Ontem quando fui me deitar pus um disco que a muito tempo não ouvia... Odessey and Oracle do The Zombies! O resultado disso foi passar todo o dia de hoje com uma música na cabeça!!
"You don't have to worry all your worried days are gone and this will be our year! Took a long time to come..."

sábado, 13 de abril de 2013

Enquando isso a vida vai passando

E eu me sentindo cada vez pior...

quarta-feira, 6 de março de 2013

Via Láctea

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las, muita vez desperto 
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".




Gosto muito desse poema do Olavo Bilac... Ele jamais poderia imaginar que um dia os astrônomos poderiam, por intermédio das antenas de seus radiotelescópios, captar os ruídos provenientes das estrelas.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Eu não tou legal mas aguento mais birita...

E olhe quem eu nem bebo!! mas a situação tá foda!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

27 anos e nada... nada
O que parece é que as escolhas que fiz na vida foram todas erradas...  :(
"I could have been a sailor, could have been a cook
A real live lover, could have been a book.
I could have been a signpost, could have been a clock
As simple as a kettle, steady as a rock.
I could be
Here and now
I would be, I should be
But how?
I could have been
One of these things first"

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O trovador solitário


Não! Não estou me referindo à Renato Russo, mas sim a um outro trovador: Nick Drake. 

Poucas vezes na música se viu a capacidade de combinar melancolia em acordes tão dissonantes, beleza harmônica com temas bucólicos e até mesmo cotidianos. 
Compositor, poeta e cantor... morreu jovem e sem o devido reconhecimento! Foi mais um, dentre tantos, que só tiveram o devido valor reconhecido após a morte.
Nascido em 19 se junho de 1948 no interior da Inglaterra. Fez tudo como manda a regra: era bastante educado, destacando-se na escola. Ganhou uma bolsa de estudos em Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge e nesta época começou a usar maconha, viajou com amigos para o Marrocos e teve sua primeira experiência com LSD. Seus tutores na universidade o descreviam como um aluno brilhante, porém sem vontade de desenvolver seu potencial. O que contrapõe seu estudo nas seis cordas do instrumento acústico, onde se tem relatos de uma aplicação com disciplina exacerbada. 
A morte do cantor é uma incógnita, alguns dizem que Drake teria se suicidado e o inquérito oficial diz que ele morreu por uma intoxicação aguda auto-administrada enquanto sofria de uma depressão , concluindo como suicídio. 


DISCOGRAFIA:

FIVE LEAVES LEFT: o álbum rural 
As sessões de gravação de Five Leaves Left começaram em Junho de 1968. O trabalho de composição estava há muito concluído e só faltavam mesmo os arranjos. Por insistência de Nick, essa tarefa foi confiada a Robert Kirby, um colega de Cambrige, com quem Drake viria a trabalhar também no disco seguinte. O título foi retirado do subtil aviso que acompanha cada pacote de mortalhas Rizla, avisando que este se aproxima do fim. O álbum saiu em 1969 e vendeu cinco mil cópias, número considerado interessante para um disco de estreia que não havia merecido qualquer esforço de divulgação.
Five Leaves Left é um impressionante primeiro álbum. Não sendo ainda uma colecção equilibrada de canções, inclui uma boa mão cheia das melhores composições que o seu génio legou à posteridade – “Time Has Told Me”, “River Man”, “Way To Blue”, “Day Is Done” ou a profética “Fruit Tree”. Não que se deva menosprezar o apuradíssimo trabalho de guitarra sobre o qual se constrói “Three Hours”, a ingenuidade em jeito de canção de embalar de “Cello Song” ou a inteligência precoce e a comovente lucidez que se encontram em “Saturday Sun”, tantas vezes injustamente esquecida, quando se tenta esboçar o alimento para um (im)possível Best Of. Se existe alguma pertinência nesta distinção, ela tem que ver precisamente com o alinhamento, a temática, enfim, com a concepção do disco, não estando nunca em causa a validade das canções enquanto pequenos e inestimáveis tesouros artísticos.
Apesar de estarem presentes em todos os trabalhos de Nick Drake, o tempo, os ritmos e os ciclos naturais (as estações do ano, os dias da semana, a corrente de um rio) são os protagonistas de uma obra que poderia muito bem servir de fundo sonoro a uma leitura das Songs of Innocence, de William Blake, a quem Drake deverá certamente muito na forma como utiliza os símbolos na construção poética. Assim como deverá também a Robert Kirby, cujos arranjos são em boa parte responsáveis pela ambiência inimitável e pelo esplendor lírico do disco.

BRYTER LATER: o álbum urbano
Após o lançamento do primeiro álbum, Nick Drake abandonou Cambrige e trocou Tanworth in Arden por um quarto estúdio em Haverstock Hill, Londres, na esperança de se tornar músico a tempo inteiro. Foi nesse pequeno espaço, mobilado apenas com uma cama, um gira-discos e uns quantos livros e posters que compôs as canções para o seu segundo álbum, Bryter Layter. Como da primeira vez, a Island não poupou esforços para garantir ao jovem compositor todos os meios necessários para a elaboração do disco, que seria como que uma prova de amadurecimento pessoal e artístico. Nomes como o de John Cale serviram para dar ainda mais credibilidade ao projecto, que deveria finalmente permitir ao tímido artista alcançar o tão desejado reconhecimento público.
Quando o disco foi lançado, em Novembro de 1970, a atmosfera era de confiança. Potenciais singles de sucesso não faltavam: “Nothern Sky”, “One Of Those Things First”, “Hazey Jane II”, “Poor Boy” ou “At The Chime Of a City Clock” eram fortes candidates à conquista de tempo de antena nas estações de rádio. Mas, mais uma vez, as esperanças saíram logradas e, num ano em que a “concorrência” foi particularmente forte, Bryter Layter acabou por ser preterido face a outros discos que fizeram história (II, dos Led Zeppelin; Imagine, de John Lenon; Sticky Fingers, dos Rolling Stones ou Bridge Over Troubled Water, de Simon & Garfunkle).
Bryter Layter é, porventura, o seu trabalho mais acabado, o mais consistente, o mais perfeito no seu conjunto. Na composição, é notória a convergência de todas as referências num todo mais equilibrado e harmonioso, que se nota ter sido explorado e polido com minúcia, paciência e virtuosismo. Na escrita, a paleta cromática expande-se para lá do azul e do verde, e descobre o cinzento. O pulsar incessante e frenético da metrópole apela ao desejo de evasão e leva Nick Drake a procurar refúgio no mesmo silêncio contemplativo e inquieto a que já se tinha entregue na sua pacata Transworth-In-Arden. Bryter Layter é melancolia pintada com as cores e as luzes da cidade, reconstruída pelo artista sobre a tela cinzenta da atmosfera pesada, do burburinho, das torres e dos relógios.
Por tudo isto, Bryter Layter é menos místico do que o seu antecessor. Mas não menos assombrado. Na cidade, o artista já não pode fugir à condição humana. Continua a ser um outsider, um estrangeiro que se sente nas entranhas, o contraste absurdo entre a paixão pela existência individual e o determinismo do imparável fluxo das pessoas e do tempo. Mas este é um tempo diferente, não na essência, mas no ritmo. Talvez por isso, Bryter Layter seja considerado por muitos como o disco mais “mexido” de Drake. Um clássico absoluto e uma delícia para os sentidos logo a primeira escuta.

PINK MOON: o álbum solitário
Imediatamente a seguir ao lançamento de Bryter Layter, Nick Drake deu a sua única e brevíssima entrevista. Nessa altura, manifestou vontade de fazer um disco só com guitarra e voz. Em 1972, durante duas noites, fechou-se no estúdio com Joe Boyd e gravou as 11 canções que constituem Pink Moon. Conta-se que terá deixado a master tape nos escritórios da Island sem avisar ninguém, e que terão passado dias até alguém dar conta disso.
Agredido no seu sentido de justiça e nas suas esperanças, Nick Drake começara a encerrar-se cada vez mais sobre si próprio, atormentado pela ideia de ter que trabalhar em qualquer outra coisa para sobreviver. O seu estado começou a deteriorar-se visivelmente e Pink Moon, o derradeiro trabalho de estúdio, é o documento dessa decadência. Se no disco anterior Drake mostrara ser capaz de exorcizar os seus demónios com uma certa dose de ironia e distanciamento (“Poor Boy” é disso o melhor exemplo), em algumas canções de Pink Moon o artista cedeu à auto-indulgência e a uma atitude niilista, como se pode verificar em “Parasite”.
O isolamento a que Drake se votou conferiu ao álbum uma atmosfera crua e intimista. Estas características tornaram-no difícil para o ouvido menos atento. A primeira reacção será de estranheza em relação à nudez da forma e à ausência de arranjos. Mas no fundo está tudo lá: o ritmo, a melodia, o tom sussurrado, a poesia. Contudo, é fácil ver que este disco também não iria fazer do seu autor uma estrela. E, no entanto,Pink Moon é um retrato sem paralelo da essência e da arte do seu criador. Canções como “Pink Moon”, “Place To Be”, “Things Behind The Sun”, “Parasite” ou “From The Morning” são testemunhos da agonia e luta desesperada que marcaram os últimos anos de Nick Drake. Despidas de todos os ornamentos, estas composições constituem simultaneamente as suas Songs of Experience e um derradeiro retorno às origens a que apetece regressar vezes sem conta.

TIME OF NO REPLY: o álbum póstumo
As “sobras”, versões alternativas e gravações domésticas reunidas no póstumo Time Of No Reply revelam aspectos essenciais da arte de Drake e fazem do disco um objecto deveras interessante. Frank Kornelussem escreve no livreto do CD que “as histórias sobre a vida de Nick Drake são tantas e tão diversas como as pessoas que as contam”. Nos dias de hoje, em que assistimos impávidos ao definhar das utopias, o espólio de Nick Drake apela ao que de mais primitivo e absoluto existe na consciência universal – o desejo de transcender a própria existência. Fazendo frente ao absurdo, na completa ausência de esperança e munido apenas de uma consciência pessoal do cosmos e da história, o artista tenta combater a tirania da indiferença do tempo e a supremacia do esquecimento sobre a memória dos homens.
Há um desespero pacífico que ensombra a obra de Drake e que transcende as barreiras da linguagem, da individualidade, do senso comum e do próprio tempo. Para alguém que viveu uma vida tão curta, o universo de Nick Drake é incrivelmente vasto, por vezes num sentido quase diabólico de intensidade e iluminação. Mas as sombras que povoam esse universo não são suficientemente densas ou imateriais para serem tomadas nas trevas. Ao contrário de Fausto, Nick Drake é demasiado cristalino para ser diabólico. Talvez para nós, filhos dos anos 80 e 90, o seu conhecimento do mundo e das coisas pareça demasiado interior, demasiado mágico. No entanto, essa sabedoria é impírica e concretiza-se na sua arte.
Nick Drake acreditava na transcendência, num plano mais elevado do espírito. Provavelmente, a reconstituição mais abrangente dessa busca e desse apuramento encontra-se em Time Of No Reply. Esta compilação de 14 temas inclui cinco canções inéditas e duas versões alternativas (“Man In A Shed” e “The Thoughts Of Mary Jane”), provenientes das sessões de gravação de Five Leaves Left. A estas juntam-se as quatro canções registadas durante a derradeira sessão de estúdio que Nick Drake realizou em 1974.
Extremamente desequilibrada enquanto disco, esta colecção de composições dispersas trata de conferir uma materialidade inédita ao percurso artístico e pessoal de Drake, principalmente por incluir duas gravações domésticas. Gravações que, com uma qualidade de som duvidosa, mostram uma faceta quase desconhecida do autor: a de trabalhador incansável, perfeccionista, compulsivo, muito para lá das atribulações da vida e da mente. O interesse que despertam é tal que se aguarda para breve a edição de uma caixa que incluirá grande parte desse espólio. Será certamente bem-vinda, como qualquer outro esforço válido para preservar uma obra que merece um lugar cativo nas nossas memórias e, hoje mais do que nunca, nas nossas vidas.

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