quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Keith Richards e as Baratas


Quando a bomba H tiver explodido
quando não houver mais chocolate
quando David Bowie morrer
eis que baratas brotarão da terra
com suas asas blindadas
suas antenas raio-laser
então Keith acordará do pó
com seu fígado invencível
com seu encéfalo de lítio
juntos para vencer o caos nuclear
para almoçar detritos
para continuar a vida...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Vida conjugada

"Após adormecer o fervor das pancadas sobre a pele ela observa acuada em um canto mergulhado em culpa balbucia a tremer os lábios com ar infantil: - perdão! suas lágrimas respingavam sobre as mãos inchadas e feridas ela abre os braços e lhe recebe com o coração na goela e responde rouca: - e por que não?"

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Que cidade é esta, em que tantos vivem, mas que só você vive, que só você vê? É sua a cidade dos que olham para cima? É sua a cidade dos que olham para o chão, para as calçadas, para os degraus? Ou a cidade dos que não olham, dos que não vêem? A sua é a cidade em que a barriga pesa até libertar uma nova vida, ou aquela em que não se pode falar em barriga? Conte como é a cidade dos que se dóem de amor e a das para quem o ato de amar dói. Vamos ler a cidade dos que ouvem outros sons e a dos que não ouvem som algum. A dos que tocam sons que não se ouve e a dos que não emitem sons. Como é a sua cidade, se sua cidade é sua cor? Como é sua cidade, encoberta pelo olhar viciado do cotidiano, escondida pela indiferença ou apenas tímida, recôndita: cidade invisível.

domingo, 23 de março de 2008

Na ponta de um penhasco tenho medo de pular. Tenho medo também de não pular e ficar para sempre aqui. Mas preciso pular para voar e seguir minha vida. O pior é que não sei voar e terei que aprender na hora, se não conseguir irei cair, me ferir e ter que escalar o penhasco para tentar outra vez. No céu infinito a vida e os acontecimentos, nas frágeis asas minhas experiências de vida quase inexistentes e poucas penas de sabedoria. No fim da queda do penhasco o meu próprio reflexo, o resultado de minhas ações. Quero voar, sentir, viver, me libertar, amar, crescer, construir... Mas se cair espero não querer morrer de novo...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Psicogeografia ou...


Por onde vão passando, os meus olhos tentam ler / descortinar / interpretar / analisar / decifrar / descodificar o que a eles se mostra. Todos os objetos contêm história, razões de ser e de estar, porquê assim e não de outras maneiras...

A paisagem é constituída por criptossistemas que nos ensinam muito sobre o que há à nossa volta, no tempo e no espaço. E as cidades são fantásticas salas de aula. Se nos esforçarmos por ser alunos, claro. Somos todos professores e alunos.

A psicogeografia é o estudo dos efeitos do entorno no comportamento e sensações do indivíduo (definição aproximada da primeira, por Ratzel
). Partindo desta interessante ideia, julgo estabelecer - bem - a relação entre bem-estar, a atractividade sentidos por um transeunte num dado espaço e os elementos que nele se manifestam.

Uma vez aludi um pouco a este assunto
e penso que o meu interesse se vai renovando à medida que vou flanando por ruas já familiares e outras não tanto, ou de todo.

Pensemos no seguinte exemplo (e logo demonstrarei aonde pretendo chegar):
Um lugar de passagem
numa rua pedestre num espaço degradado (A) e uma vivenda de luxo (B). Atentemos estas duas "entidades" quanto às cores (outros factores sensíveis podem ser analisados, claro. Por exemplo, o som é também muito elucidativo para a leitura da paisagem...):

A apresenta-nos algum lixo no chão, papel de parede com anúncios publicitários, casas abandonadas, pombas e os seus nunca remunerados serviços de pintura minimalista (olhem, em Braga há exemplos de sobra...), etc.
B apresenta-nos, se preciso for, com um jardim com relvado e piscina, talvez um campo de ténis, rodeado (o jardim) por uma fronteira arbórea (cedros, normal e pobremente). A casa pode ser de tons pastel, uma porta vermelha ou castanha, etc.

Assim imaginado (penso que ambos os casos se verificam por aí) reparemos no contraste de cores:
Para o espaço A (e se for em Braga) temos muitas cores, fragmentadas, numa miscelânia repulsiva ou indiferente (na publicidade), sob um pano geral acinzentado (granito) e esverdeado (casas a servir de moradia às pombas).
No espaço B, espaço - repete-se - de estar, as cores vivas dos elementos naturais (no jardim), mistos (água da piscina ou campo de ténis) dão outro ar à coisa. E a quem por lá esteja.

Não em jeito de conclusão, pois essas são sempre insatisfatórias, apetece-me dizer algo que soará como a velha "lógica da batata": espaços degradados tendem a causar sensação de repulsa. Daí serem, muitas vezes, não-lugares. Em relação aos outros, e como temos de nos sentir bem onde moramos, evitamos ao máximo que se tornem naqueles. Salvo se formos pombas.
Também a economia (isto também não é novo) produz espaços diversos e, por consequência, sensações distintas.

Enfim, Psicogeografia ou psicose de ver Geografia em todo o lado?
Mas afinal o que não é a Geografia?