domingo, 13 de janeiro de 2008

Psicogeografia ou...


Por onde vão passando, os meus olhos tentam ler / descortinar / interpretar / analisar / decifrar / descodificar o que a eles se mostra. Todos os objetos contêm história, razões de ser e de estar, porquê assim e não de outras maneiras...

A paisagem é constituída por criptossistemas que nos ensinam muito sobre o que há à nossa volta, no tempo e no espaço. E as cidades são fantásticas salas de aula. Se nos esforçarmos por ser alunos, claro. Somos todos professores e alunos.

A psicogeografia é o estudo dos efeitos do entorno no comportamento e sensações do indivíduo (definição aproximada da primeira, por Ratzel
). Partindo desta interessante ideia, julgo estabelecer - bem - a relação entre bem-estar, a atractividade sentidos por um transeunte num dado espaço e os elementos que nele se manifestam.

Uma vez aludi um pouco a este assunto
e penso que o meu interesse se vai renovando à medida que vou flanando por ruas já familiares e outras não tanto, ou de todo.

Pensemos no seguinte exemplo (e logo demonstrarei aonde pretendo chegar):
Um lugar de passagem
numa rua pedestre num espaço degradado (A) e uma vivenda de luxo (B). Atentemos estas duas "entidades" quanto às cores (outros factores sensíveis podem ser analisados, claro. Por exemplo, o som é também muito elucidativo para a leitura da paisagem...):

A apresenta-nos algum lixo no chão, papel de parede com anúncios publicitários, casas abandonadas, pombas e os seus nunca remunerados serviços de pintura minimalista (olhem, em Braga há exemplos de sobra...), etc.
B apresenta-nos, se preciso for, com um jardim com relvado e piscina, talvez um campo de ténis, rodeado (o jardim) por uma fronteira arbórea (cedros, normal e pobremente). A casa pode ser de tons pastel, uma porta vermelha ou castanha, etc.

Assim imaginado (penso que ambos os casos se verificam por aí) reparemos no contraste de cores:
Para o espaço A (e se for em Braga) temos muitas cores, fragmentadas, numa miscelânia repulsiva ou indiferente (na publicidade), sob um pano geral acinzentado (granito) e esverdeado (casas a servir de moradia às pombas).
No espaço B, espaço - repete-se - de estar, as cores vivas dos elementos naturais (no jardim), mistos (água da piscina ou campo de ténis) dão outro ar à coisa. E a quem por lá esteja.

Não em jeito de conclusão, pois essas são sempre insatisfatórias, apetece-me dizer algo que soará como a velha "lógica da batata": espaços degradados tendem a causar sensação de repulsa. Daí serem, muitas vezes, não-lugares. Em relação aos outros, e como temos de nos sentir bem onde moramos, evitamos ao máximo que se tornem naqueles. Salvo se formos pombas.
Também a economia (isto também não é novo) produz espaços diversos e, por consequência, sensações distintas.

Enfim, Psicogeografia ou psicose de ver Geografia em todo o lado?
Mas afinal o que não é a Geografia?